FaceApp: A aplicação que vos torna mais velhos não deve ser usada.
Você já deve ter visto nas redes sociais (Facebook, Instagram, etc.) muitas fotografias de amigos que envelhece a cara de 20 ou 30 anos (ou mais). Todos os que publicaram essas fotografias usaram a aplicação FaceApp e podem estar a correr riscos.
Os problemas em causa são a Política de Privacidade incompleta e confusa, uso indevido dos dados dos utilizadores entre outros.
Antes de continuar, recuando uns 20 anos, numa época em que havia poucos computadores e ainda não existiam smartphones (independentemente do sistema operativo), gostaria de fazer uma analogia à realidade dessa app.
Imagine-se a passear na rua, com a sua máquina fotográfíca e pede a um estranho que lhe tire uma fotografia, usando a máquina fotográfica que você emprestou. Essa pessoa aceita, tira a foto e pede-lhe então o seu rolo fotográfico e outras informações, como a sua identificação. E ainda lhe pede um relatório de tudo o que fez até hoje.
Você aceitaria isso? De maneira nenhuma. Você já não ia aceitar tirar nenhuma fotografia.
É precisamente isso que está a acontecer com essa app que se chama FaceApp.
Infelizmente, este é só mais um caso em que as fotografias de qualquer pessoa podem ser usadas sem o seu consentimento.
Recorde-se de um caso semelhante, o da Koppie Koppie, a loja online holandesa, que vende canecas online com fotos de crianças. Um outro caso bem mais recente é o de Cambridge com o Facebook. Também falamos do caso do “Desafio dos 10 anos” do Facebook, em que consistia colocar uma foto actual do utilizador e uma foto tirada há 10 anos.
Mas o que é a app FaceApp?
FaceApp é uma app (aplicação), disponível para smartphones Android (clique aqui para abrir a Play Store) e para os iPhone’s (clique aqui para abrir a Apple Store), com muitos filtros de edição de fotografias para serem aplicados em selfies, que permite os utilizadores ficarem com rosto mais velho, mais jovem, etc.
Esta aplicação é desenvolvida na Rússia pela empresa Wireless Lab, que usa tecnologia de rede neural para gerar automaticamente transformações realistas de rostos em fotografias. Ela foi lançada em 2017 para iOS e Android.
Observação: FaceApp não tem nada a ver com o Facebook, como muitas pessoas possam imaginar.
Onde há perigo nisso?
Nisso, não há perigo nenhum! Porém, essas fotos podem ser depois reutilizadas por terceiros. Pois, uma vez que escolheu a foto a modificar, esta é carregada num dos servidores de FaceApp. E isso não pára por aí, pois a aplicação tem o direito de explorar a foto modificada, para fins promocionais.
Pode ainda acontecer que essa empresa venha a construir, ou já tenha, uma base de dados com todos as fotos retocadas dos utilizadores. Embora já se sabe que essas fotografias são guardadas apenas temporariamente nos servidores, é sempre um risco que se corre.
Já parou para pensar que essas fotos poderão depois ser vendidas a uma outra empresa sem o seu conhecimento e/ou consentimento?
Qual é o problema da Política de Privacidade?
O problema da Política de Privacidade é o mesmo de todas as aplicações e redes sociais que usamos: é criada para que ninguém a leia.
Esta Política de Privacidade, criada a 20 de Janeiro de 2017 (repare-se que ainda não foi actualizada desde a aplicação da nova legislação europeia sobre a Protecção de Dados, chamada de Regulamento Geral de Protecção de Dados), explica como é retratada a coleta, uso e partilha de dados dos utilizadores. Porém, ao ler essa Política de Privacidade, são levantadas muitas dúvidas às quais poucas ou nenhumas respostas são conhecidas.
O que é colectado?
Os dados são informações fornecidas directamente pelo utilizador, como fotos e outros materiais (que não sabemos quais são, pois não é explicado e aqui fica uma informação dúbia). Recolhem ainda os cookies e tecnologias similares, ou seja, poderá ser feito um rastreamento de tudo o que você faz na Internet com o smartphone.
Como usam as informações dos utilizadores?
De acordo com a Política de Privacidade, é uma maneira de fornecer conteúdo e informações personalizadas para o utilizador e outras pessoas. Que outras pessoas? Fica a dúvida no ar!.
Ao ler-se “monitorar métricas como número total de visitantes, tráfego e padrões demográficos”, subentende-se que monitoram a idade dos utilizadores. Sim, aquela data de nascimento que você introduziu no Facebook, Instagram ou outra rede social, é utilizada para esse efeito.
A actualização da aplicação é feita automaticamente, ou seja, você não irá ter a preocupação de procurar saber o que muda de uma versão para a outra. Essa poderá ser uma outra estratégia para inventarem mais alguma coisa, de modo a pôr na mesa a privacidade do utilizador, sem que este tome conhecimento.
E quanto à partilha de informação?
Segundo a Política de Privacidade da app FaceApp, lê-se que não alugarão nem venderão as informações a terceiros fora da FaceApp (ou o grupo de empresas das quais a FaceApp faz parte) sem o consentimento do utilizador.
Mais uma pergunta e mais uma dúvida ficam no ar: que empresas são essas que fazem parte do grupo no qual faz parte a FaceApp? Também não se sabe.
Mas isso não fica por aí. A aplicação poderá partilhar o conteúdo do utilizador e suas informações com empresas que são legalmente parte do mesmo grupo de empresas do qual o FaceApp faz parte, ou que se tornem parte desse grupo (“Afiliados”).
Que confusão, não é? Inicialmente, é informado que não cedem as informações. E agora já dizem que podem eventualmente partilhar tudo isso com outras empresas que pertencem ao mesmo grupo? É mais uma pergunta que paira no ar.
Assim como essa confusão, existem muito mais ao longo de toda a Política de Privacidade.
Onde posso ler essa Política de Privacidade?
Leia aqui a Política de Privacidade na íntegra em inglês.
Utilizei a app. E agora?
Como explicado, eles podem usar as fotografias dos utilizadores para fins promocionais.
Lembre-se: tudo o que é gratuito tem o seu propósito e ninguém dá nada de graça a ninguém.
Mas várias figuras públicas já utilizaram essa app! Porquê toda essa preocupação?
Sim, é verdade! Muitas figuras públicas portuguesas, como brasileiras, já usaram essa aplicação. Para essas pessoas não tem qualquer problema, pois como dito, são figuras públicas, logo estão sempre expostas através da comunicação social e das redes sociais.
No entanto, para o utilizador “normal”, como eu e você, isso já não é assim!
Imagine o seu estado quando você descobrir que a sua foto modificada foi usada, sem o seu consentimento e sem você saber de nada, por exemplo para uma campanha publicitária de uns produtos cosméticos que previnem a velhice.
E você, já usou essa app? Vai usar? Se ainda não usou, pense duas vezes antes de o fazer!
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